ANIVERSARIANTES DO MÊS

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O SAGRADO CORAÇÃO DE DEUS

          A Igreja de Deus celebra neste mês de junho a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. É uma riqueza para todo o povo de Deus, e a nós frades franciscanos que O temos como patrono.

          Pertencentes a Custódia do Sagrado Coração somos chamados a despertar os nossos corações à busca do sentido profundo desta devoção. A palavra “coração” é repetida cerca de mil vezes na Bíblia, tanto no Antigo Testamento como no Novo. As palavras hebraicas lev/leváv e a grega Kardía são usadas na Bíblia para designar o “coração” tanto num sentido literal ou figurativo. Na maioria das citações o “coração” é usado de modo figurado, representando “a parte central em geral, o íntimo, e assim o homem interior, conforme se manifesta em todas as suas diversas atividades, nos seus desejos, afeições, emoções, paixões, objetivos, seus pensamentos, percepções, imaginações, sua sabedoria, conhecimento, habilidade, suas crenças e seus raciocínios, sua memória e sua consciência de si mesmo” (1).

          No entanto, não podemos imaginar que na Sagrada Escritura, o “coração” no seu sentido figurado se resume apenas a ser a sede das afeições e motivações, nem se limita ao intelecto. “Entre os semitas... tudo o que era peculiar do homem, tanto na categoria dos sentimentos como do intelecto e da vontade, era atribuído ao coração.” Ele é “a totalidade do homem interior, em contraste com a carne, que é o homem exterior e tangível” (2).

          Contudo é ao Coração de Jesus que devemos nos ater, mas esta reflexão nos ajuda a observar que quando falamos do “Coração de Jesus” estamos falando da “intensidade do amor de Deus”. Um amor que se mostra na sua “totalidade” na encarnação do Verbo. Sendo assim, outra dimensão se revela a partir deste “amor de Deus” é a “misericórdia”. Chegamos então ao “amor misericordioso” do Coração (interior) de Deus. Mas o que significa “misericórdia”?

          Num sentido simples e abrasivo, a palavra provém de uma junção de outras duas palavras que provêm do latim: miserere e cordis. A primeira quer dizer: “ter compaixão de”, ou seja, sentir com o coração de alguém; é a disposição de sentir aquilo que o outro sente. Então sentir compaixão é saber exatamente o que se passa com a outra pessoa porque o nosso coração está em sintonia com o dela. A segunda palavra significa: “coração”, não apenas no sentido físico ou fisiológico, mas o lugar onde brotam as emoções e sentimentos. Por isso ter “misericórdia” significa compreender o sofrimento do outro – ser solidário com o outro.

          Neste sentido conseguimos avançar mais na grandeza do Santíssimo Coração de Jesus. Percebemos, porém que o sentido pleno deste “Coração” é o amor especial que Deus tem por cada um de nós. Desde a criação Deus demonstra o seu amor. “No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). Ele não usou nenhum outro parâmetro, criou tudo do nada. Este é uma grande demonstração de que a criação inteira é fruto do seu amor, pois tudo partiu de Si – do imenso dom do seu amor infinito.

          Enfim, chega a plenitude dos tempos e o “amor misericordioso” de Deus se revela plenamente. Na teologia franciscana, percebemos que unicamente por amor – independente da condição de pecado – o Filho amado de Deus se faz homem, e é na pessoa do Deus Encarnado que temos a possibilidade de fazer a experiência do amor humano e divino de Deus.

          É no Coração de Jesus que encontramos sentido para as inquietações dos nossos corações refletindo as nossas disposições, nossas atitudes, nossos sentimentos e emoções. Estes incluem amor, alegria, dor e tristeza, ódio. Deste modo, o nosso coração pode estar “ansioso”, “traspassado” de aflição e medo. O papa Pio XI em sua encíclica Miserentissimus Redemptor no parágrafo dez, vai falar sobre a união do nosso amor humano com o coração humano e divino de Jesus: “Uma alma realmente amante de Deus, quando olha para o tempo passado, vê Jesus Cristo trabalhando, sofrendo duríssimas penas ‘por nós, os homens, e pela nossa salvação’, tristeza, angústias, opróbrios, ‘trespassado por nossas culpas’ e curando-nos com suas feridas”.

          Dentro de nossa espiritualidade franciscana conseguimos compreender mais profundamente o sentido de comunhão entre o nosso coração (interior do homem) ao coração “humano e divino” de Deus. O próprio São Francisco de Assis se configurou a este “amor misericordioso” que no fim da vida suplica: “Senhor meu Jesus Cristo, rogo me concedas duas graças antes de morrer: a primeira é que eu sinta no corpo e na alma, quanto seja possível, a dor que Tu, doce Jesus, sofreste no tormento da tua acerba Paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto possível, aquele excessivo amor em que Tu, Filho de Deus, ardias quando sofreste voluntariamente tantos tormentos por nós, pecadores (Considerações Sobre as Chagas).”

          Outro insigne santo da nossa espiritualidade Franciscana é São Boaventura (+1274) que aprofundou no mistério do Coração de Cristo, encontrando Nele a fonte do amor infinito do Senhor, e passa a considerá-Lo como modelo de nosso amor, paciente por nossos pecados, a quem devemos atender entregando-lhe nosso coração. Mergulhado nesta “fonte de amor”, São Boaventura, na pureza poética franciscana, fala do amor divino que brota do Sagrado Coração de Jesus: “Levanta-te, ó alma amiga de Cristo. Não cesses a tua vigília, cole seus lábio neste Coração para aí haurires as águas das fontes do Salvador”(3).

          É diante da Cruz e olhando o Coração traspassado de Jesus que sentimos a intensidade do “amor de Deus” (humano e divino) que se entrega por nós e merece ser amado. Por isso São Boaventura exclama que “para isso foi ferido o teu coração, para abrires uma porta e aí entrarmos, e libertos do pecado, com amor aí permanecer. Quem não ama tão grande amante?”. É contemplando a ferida causada pela lança do soldado na cruz que nós somos levados á chaga invisível do amor.

          Neste sentido somos mergulhados numa profunda experiência do “amor misericordioso de Deus” que se pode contemplar no Sagrado Coração de Jesus. Mas a contemplação deste imenso amor nos convida a olharmos para o nosso próprio coração, e percebermos o vazio da nossa existência e preencher o nosso nada na profunda misericórdia de Deus descobrindo o real sentido de nossa vida. De tal modo, se buscarmos o sentido de nossas vidas precisaremos nos plenificar na verdade o Sagrado Coração de Jesus. Somente no coração de Jesus é que encontraremos o alento e descanso em meio ao vazio existencial que deparamos quando não nos voltamos para Deus.

          É isto que o saudoso papa João Paulo II quer nos dizer na Encíclica Redemptor Hominis: “Junto do Coração de Cristo o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único de sua vida e de seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a se preservar de certas perversões do coração humano, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo… é no Coração de Cristo que o homem recebe a capacidade de amar.”

          Assim sendo, a nossa Santa Igreja, no decorrer dos séculos, meditou sobre esta devoção e nos apresenta três princípios fundamentais:

1. O primeiro nos relembra que desde o princípio Deus nos amou e este amor se mostra plenamente na encarnação de seu Filho. Deste modo a nossa vida deve estar toda alicerçada no amor.

2. O segundo nos coloca diante do “amor misericordioso de Jesus” que não se deixou abater pelas aflições do Horto das Oliveira e nem na Cruz. Sendo assim cada um de nós deve assumir o compromisso de reparação da alma, partilhando o amor com Cristo pelos seus sofrimentos.

3. O terceiro nos propõe a imitação do Cristo no Mistério Pascal e na Eucaristia.

          Deste modo supliquemos a Deus que nos conceda a graça de sermos testemunhas do seu misericordioso amor e que preenchidos do nosso vazio e renovados pelo sangue e água que jorraram do Coração de seu Filho, sejamos continuadores deste amor pela força do Santo Espírito.

Referências:

(1)- Journal of the Society of Biblical Literature na Exegesis (Revista da Sociedade de Literatura e Exegese Bíblicas), 1882, p. 67.

(2)- DHORME, E. O Uso metafórico dos Nomes das Partes do Corpo no Hebraico e no Acadiano. Paris, 1963, pp. 113, 114,128 (em francês).

(3)- S. BOAVENTURA. Lignum vitae - A árvore da vida: meditações cristológicas. Trad. José Maria Fonseca, Braga : Editorial Franciscana, D.L. 1997.

Frei Bruno Alexandre Scapolan, ofm

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