MÊS MISSIONÁRIO

Mantenham as lâmpadas acesas

(Dom Aloísio. 2008 UFC)

A Primeira Vida, Segundo Frei Tomás de Celano relata o seguinte:

Por esse tempo, ingressou na Ordem um outro homem de bem, chegando a oito o número de irmãos. Então São Francisco chamou-os todos a si e, tendo-lhes falado muitas coisas sobre o Reino de Deus, o desprezo do mundo, a abnegação da própria vontade e a mortificação do corpo, dividiu-os dois a dois pelas quatro partes do mundo e lhes disse: “Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados; sede pacientes na tribulação, confiando que o Senhor vai cumprir o que propôs e prometeu. Aos que vos fizerem perguntas respondei com humildade, aos que vos perseguirem e caluniarem agradecei, porque através disso tudo nos está sendo preparado um reino eterno”. Recebendo o mandato da santa obediência com gáudio e muita alegria, eles se prostraram suplicantes diante de São Francisco. Ele os abraçava e dizia com ternura e devoção a cada um: “Põe teus cuidados no Senhor e ele cuidará de ti” (Sl 54,23). Sempre repetia essas palavras quando transmitia alguma obediência aos irmãos (1Cel 29). 

Este mês de outubro é dedicado à missão na Igreja, é um momento oportuno para refletir sobre o papel de missionário presente na vida de cada batizado. Neste espaço a reflexão é feita a partir da vivência franciscana da missão e evangelização. Como se pode perceber no trecho acima, a evangelização e missão é algo valorizado desde os primeiros companheiros de Francisco de Assis, porque ele compreende que enviando dois a dois é um caminho de perfeição no seguimento de Jesus, que envia os seus discípulos de dois a dois. E antes de tudo é um modo de anunciar a todos os povos que a Boa Notícia trazida por Cristo que é o seu Reino já é vigente aqui e que precisa despertar para concretizá-lo.

Um elemento essencial na evangelização franciscana é a oração; tudo deve ser conduzido por ela. É importante que os frades e os demais franciscanos e franciscanas sejam acolhedores, estando perto do povo, dando um sorriso, manifestando um gesto de bondade, de cortesia. Estes gestos valem muito mais do que um belo sermão.

O verdadeiro Pastor é aquele que realmente conhece os fiéis e os problemas deles, aquele que está familiarizado com a sua vida. se vai à frente deles, não é para impor normas, mas pra servir de testemunha da profunda e corajosa confiança cristã em Deus. É preciso dar testemunho da confiança inabalável em Deus pela própria vida! É como  dizia Paulo VI na Encíclica Evangelii Nuntiandi: “Nós precisamos mais de testemunhas do que de mestres!”.

Evangelizar é dar testemunho de uma vida autêntica – a vida em Cristo, a vida na Graça. Cristo vivia a sua vida com prazer. É preciso despertar para este prazer. Não pode ser um peso e um estrés ser cristão ou frade. Que testemunho é dado quando se está cansado e reclamando? Deus vem ao homem com gratuidade, com gosto. Ele faz de tudo para entrar na vida de cada pessoa. São Francisco lembra que, para tanto, até foi capaz de nascer à beira da estrada (Ofp 15,7). Sentindo-se completamente à vontade diante de Deus é que o ser humano dá sua resposta com prazer. Sem dúvida, a Igreja precisa seguir o método de Deus!

É bonito ouvir o povo reclamar que o sacerdote, que tem por ofício pregar o evangelho, não vivê-lo pessoalmente! É um grande testemunho colocar em prática o que se prega. Uma pregação rica é aquela que é fruto de mais contemplação e menos raciocínio. A verdade fala por si, porque o grande testemunho é o próprio Deus.

Ser Igreja não significa estar voltado para dentro de si próprio, mas para fora. O que deve animar hoje é o espírito missionário. Se não houver este espírito de abertura ao mundo, é como malhar em ferro frio. Isto é participação. Agora comunhão, por sua vez, quer dizer solidariedade.

Na formação cristã e religiosa o importante é a ligação entre ação e contemplação. A experiência diz que as melhores respostas são dadas a partir da oração, porque quem inspira é o Espírito Santo. A oração ensina a ser menos egoísta, porque oração é compromisso, não só consigo, mas com os outros. Os dois mandamentos: “Amar a Deus e amar aos outros” são interligados e isso deve aparecer na oração.

A fé é algo que procede do coração! Este tem que ser convertido! Quer dizer que é preciso se orientar para Deus. Não é como um copo de água em cima da mesa enquanto um padre dá a benção via Rádio ou TV. Isto é algo mágico. É preciso entregar-se a Deus. O caminho passa pela cruz. Quantos sabem que comungar o Corpo do Senhor é comprometer-se com a causa Dele, é aceitar tornar-se alimento para os outros como Ele, Cristo, se tornou alimento? O testemunho, por si só, deve convencer, atrair, comprometer. Se alguém quiser seguir outro caminho, deixe.

Estes são elementos essenciais para que se viva a dimensão missionária e evangelizadora, e que os frutos sejam dentro de cada pessoa primeiramente, para então, frutificar nos outros.